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Dandara dos Palmares

Dandara foi esposa de Zumbi e, como ele, também lutou com armas pela libertação total das pretas e pretas no Brasil; liderava mulheres e homens, também tinha objetivos que iam às raízes do problema e, sobretudo, não se encaixava nos padrões de gênero que ainda hoje são impostos às mulheres. E é precisamente pela marca do machismo que Dandara não é reconhecida ou sequer estudada nas escolas. Lamentavelmente, nem mesmo os movimentos negro e feminista mencionam Dandara com a frequência que deveriam. De um lado, o machismo, que embora conte com o trabalho árduo das mulheres pretas, não lhes oferece posição de destaque e voz de decisão. Do outro, o racismo, que só tem memória para mulheres brancas. 

Dandara além de esposa de Zumbi dos Palmares com quem teve três filhos foi uma das lideranças femininas pretas que lutou contra o sistema escravocrata do século XVII. Não há registros do local do seu nascimento, tampouco da sua ascendência africana. Relatos nos levam a crer que nasceu no Brasil e estabeleceu-se no Quilombo dos Palmares ainda menina. Não era muito apta só aos serviços domésticos da comunidade; plantava como todos, trabalhava na produção da farinha de mandioca, aprendeu a caçar, mas, também a lutar capoeira, empunhar armas e, quando adulta, liderar as falanges femininas do exército preto palmarino. Dandara foi uma das provas reais da inverdade do conceito de que a mulher é um sexo frágil. 

Quando os primeiros pretos se rebelaram contra a escravidão no Brasil e formaram o Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, Dandara estava com Ganga-Zumba. Participou de todos os ataques e defesas da resistência palmarina. Na condição de líder, Dandara chegou a questionar os termos do tratado de paz assinado por Ganga-Zumba e pelo governo português. Posicionando-se contra o tratado, opôs-se a Ganga-Zumba, ao lado de Zumbi. 

Sempre perseguindo o ideal de liberdade, Dandara não tinha limites quando estavam em jogo a segurança de Palmares e a eliminação do inimigo. Chegando perto da cidade do Recife, depois de vencer varias batalhas, Dandara pediu a Zumbi que tomasse a cidade. Essa é uma prova da valentia e mesmo um certo radicalismo dessa mulher. Sua posição era compartilhada por outras lideranças palmarinas. Ao invés da Paz em troca de terras no Vale do Cacau, que era a proposta do governo português, ela preferiu a guerra constante, pois via nesse acordo a destruição da República de Palmares e a volta à escravidão. Em 06 de fevereiro de 1694, após a destruição da Cerca Real dos Macacos, que fazia parte do Quilombo de Palmares, Dandara, uma guerreira preta, preferiu jogar-se no abismo de uma pedreira a voltar a ser escrava. 

Não sabemos como era seu rosto, nem como era exatamente. Podemos compará-la a duas deusas do panteão africano: uma Obá ou Iansã, uma leoa defensora da liberdade. Sua imagem vive e pode ser vista em cada pessoa que se identifica com suas origens, luta por liberdade, acredita em seus sonhos e “faz da insegurança sua força e do medo de morrer seu alimento, por isso me parece imagem justa para quem vive e canta no mal tempo”.

 

Referências:

http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2014/11/07/e-dandara-dos-palmares-voce-sabe-quem-foi/

http://nossacausa.com/negros-no-brasil-quem-foi-dandara-dos-palmares/

http://www.geledes.org.br/dandara-a-face-feminina-de-palmares/#gs.MVLySQg

https://jaridarraes.com/cordel/

http://www.aslendasdedandara.com.br/

ARRAES, Jarid. As lendas de Dandara. Porto Alegre: Editora Livre, 2015. 146 p

dandara
mc carol

MC CAROL 

Um exemplo de resistência, empoderamento e rompimento de paradigmas, é a cantora Carolina de Oliveira Lourenço, conhecida como Mc Carol de Niterói. Utilizando da humildade para ter sucesso no funk, a cantora, militante preta e feminista, vem conquistando um público cada vez maior nos últimos anos com músicas que expressam seu caráter de repúdio à manutenção de estereótipos e padrões de beleza tão naturalizados na sociedade.

Com hits como "100% feminista", "Não foi Cabral", "Propaganda Enganosa", "Meu Namorado é Maior Otário" dentre outros sucessos, a funkeira utiliza do seu talento para não só utilizar a música como entretenimento, mas para denotar o caráter ideológico das suas letras, utilizando uma ferramenta

abrangente como a música para desconstruir conceitos inerentes ao ser mulher e questionar hierarquias de poder baseadas em raça, gênero e classe. 

Nascida na comunidade Preventório, em Niterói, a cantora de 21 anos não tem medo de ousar nas letras e faz sucesso por sua irreverência e autenticidade. Criada pelos avós, Carol teve uma infância difícil, enfrentando lutas diárias pertinentes ao ser uma mulher preta, gorda e pobre, numa sociedade racista, machista, gordofóbica e capitalista. Com jeito rebelde, ganhou o apelido de Bandida ainda na infância, por questionar os sensos comuns e por não se calar diante de discursos intimidadores masculinos. 

Mc Carol é indiscutivelmente um ícone de representatividade e resistência ao padrão branco, positivista e academicista inerente às produções artísticas provenientes do olhar ocidental e detentor de poder. Mulher, preta e protagonista da sua própria história, a cantora é exemplo de que o lugar da mulher preta é onde ela quiser.

Ellen Oléria

Ellen é uma cantora, compositora e atriz brasileira, preta, lésbica e feminista. Nascida em Brasília em 12 de novembro de 1982, foi criada em Taguatinga e iniciou no mundo da música aos 16 anos, cantando em bares e casas de show. Completando 16 anos de carreira e com 5 discos lançados, é uma figura de resistência e representatividade, além do ativismo político explicitado por suas participações em conferências nacionais de igualdade racial, de juventude, de saúde, de educação e de mulheres, fóruns como o Fórum Social Mundial, Festival da Mulher Afro-Latino- Americana e Caribenha (Latinidades). 

Ellen Oléria é conhecida por tratar, em suas canções, o enfrentamento ao racismo, à lesbofobia, e diversas formas de discriminação: "Canto o universo

de uma negra, lésbica, criada no Chaparral, região entre Taguatinga e Ceilândia", contou em uma entrevista de 2009 sobre o lançamento do que era, na época, seu primeiro e único disco. Em sua última turnê alcançou cidades do Brasil inteiro, assim como países europeus e asiáticos. Em seu último disco, Afrofuturista, ela mistura ritmos brasileiros como samba, forró, carimbó, afoxé, maracatu que são misturados com ritmos contemporâneos e atuais e representam as identidades dos movimentos pretos no Brasil. 

Sobre Afrofuturista (2016),   em                     ao Correio Braziliense, diz: "Há quatro anos estudo afrofuturismo e penso em como trazer todo esse universo à tona. Sou herança, descendência e promessa dessa linhagem. No disco, passeamos pelos ritmos tradicionais, afro-brasileiros. O álbum fala de raízes, de como as populações afrodiaspóricas têm sobrevivido ao projeto de extinção e massacre com tanta luminosidade, inventividade e criatividade. Passa pelo candomblé, pelas modas de viola, pelo maracatu. Um trabalho coletivo, como prefiro fazer. Enquanto eu puder cantar e contar nossas histórias, farei isso".

Ellen foi participante e vencedora do programa The Voice Brasil em 2014. Ainda em entrevista ao Correio Braziliense, ela fala sobre a experiência com racismo através de lembranças que vêm desde a infância. "Perguntei para minha mãe: "Se eu tomar muito leite será que fico branca?”;"Achei que deveria deixar de ser negra.’’"

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Referências: 

http://ellenoleria.com.br/

ellen

Maria Mina (e Mulheres em Desterro)

MULHERES EM DESTERRO

Contexto:

Em 1855, a capital da província tinha 19.913 habitantes, entre os quais, 3.692 escravos. Aos escravos e escravas só era permitido frequentar a Praça do Mercado se estivessem a serviço de patrões e patroas. Nesse caso, que fizessem rapidamente as compras. O regulamento era bastante evidente nesse sentido: enquanto “as casas só poderão ser alugadas a pessoas livres”, os lugares de quitanda “poderão ser alugados a pessoas livres, e a escravos, com licença por escrito de seus senhores”. Havia uma maioria de mulheres quitandeiras atuando no Mercado Público. Além disso, os nomes registrados apontam para uma significativa presença de trabalhadoras de origem africana. 

Dentre as 26 mulheres pagando imposto (entre os anos de 1850-1851), três delas eram pretas libertas e 13 eram escravas. Entre as mulheres que pagavam imposto de pombeira (3.200 réis mensais) encontravam-se as "pretas forras" Rita de Jesus, Ana Maria e Catharina. Entre as escravas, duas pagavam para vender, as outras tinham os impostos pagos pelas proprietárias. 

Percebe-se a diversidade de termos utilizados para classificar a situação social do vendedor ou vendedora em questão ("preta forra", "liberta", "escrava", ou ainda sem referência, o que leva a crer que era pessoa livre), associados a uma quantidade relevante de sobrenomes que carregavam referências às diferentes "nações" africanas a que estavam associadas aquelas pessoas, denominadas a partir das regiões de origem do tráfico escravo e aqui ressignificadas. 

Além da grande presença de mulheres, esses dados revelam uma gama de situações e arranjos de trabalho que escravos e libertos estabeleciam com seus proprietários: a autonomia de trabalhar no Mercado Público, ou fora dele, vendendo quitandas ou pombiando (a serviço da senhora, do senhor, ou para si próprios); as relações que estabeleciam com alguém em situação semelhante para dividir os vãos entre as colunas; a possibilidade de, com algum acúmulo a partir das vendas, comprar sua própria alforria e, finalmente, pagar o imposto para que alguém trabalhasse para si; redes de interesses e identidades que possibilitavam a inserção e o trânsito nesses locais e posições. 

Proibia-se também ao vendeiro de consentir ajuntamentos de escravos, toques, danças e vozerios. O art. 38 do dito Código de Posturas proibia “os ajuntamentos de escravos, ou libertos para formarem batuques; bem como os que tiverem por objetos dos supostos reinados africanos”.

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MARIA MINA

Em 1860 foi ser alforriada no cartório do centro, junto com seu proprietário Luis de Santa Anna. Com a alforria onerosa (paga) pegou dinheiro emprestado com o Capitão Clemente Antônio Gonçalves. Maria era ex-escrava quitandeira. Trabalhava na praça do mercado, num aluguel que pagava por um vão junto com Thereza. 

Pagava-se 1$200 réis mensais pelo aluguel (podendo ser divido). Nessa época o proprietário não era obrigado a aceitar a transação da alforria e mesmo assim o fez (razão desconhecida). Maria pagou 800 mil réis. Era ainda jovem e podia trabalhar. Era boa comerciante (tradição dos Minas). 

Em setembro de 1882, (22 anos de sua alforria), ela fez contrato com outro militar – Coronel Alves de Brito – para libertar seu sobrinho Manoel, de 24 anos que estava sendo vendido para o Rio de Janeiro. É possível que esta Maria Mina seja a mesma que, alforriada, continuou trabalhando como quitandeira no mercado, chegando, em 1883, a acumular pecúlio para libertar outro escravo. 

Se esse for o caso, Maria Mina foi uma das que aproveitou o momento favorável, em torno da década de 1850, e soube aplicar seu capital político e econômico para manter certa posição no comércio de alimentos no contexto menos favorável das décadas seguintes.

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Referências: 

POPINIGIS, Fabiane. "Aos pés dos pretos e pretas quitandeiras": Experiências de trabalho e estratégias de vida em torno do primeiro Mercado Público de Desterro (Florianópolis) e seus arredores 1840-1890. Afro-Ásia,  Salvador ,  n. 46, p. 193-226,    2012 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0002-05912012000200006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em Novembro/2016.

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